O centro do estúdio de design: a identidade corporativa
Uma das desculpas mais usadas pelas agências é a seguinte: Estamos demasiado ocupados e não temos tempo para cuidar da nossa identidade corporativa (IC). Em casa de ferreiro, o espeto é de pau...
- Peço desculpa?
Não deveria ser a primeira coisa a ser feita quando se inicia uma agência ou uma marca? Trata-se de uma situação que já várias vezes me surpreendeu em diversas agências. Porque não era marca da agência tratada da mesma forma que a do cliente?
Por que razão não se aproveitou a oportunidade de suplantar a concorrência e de garantir a posição no mercado? Uma agência é também uma marca e, assim sendo, tem de ser tratada como tal.
É fundamental apresentar uma imagem pública forte - tão importante quanto estabelecer uma identidade interna. Penso que agir com base numa IC é um fator importante, sendo algo que frequentemente descubro falar nas maiores agências. É uma pena quando os colaboradores de uma agência são incapazes de se identificar com a IC.
Uma IC tem de se ajustar à agência, e os seus colaboradores devem identificar-se com ela e cuidar dela com o grau de detalhes necessário. Este aspecto é particularmente importante na conquista de novos clientes e novos colaboradores – e não apenas através do destaque dado aos clientes importantes e aos prêmios conquistados.
Uma marca não pode sobreviver apenas com base em ideias sobre posicionamento e branding, sendo vital que disponha de uma imagem, de uma primeira impressão convincente da Identidade Corporativa.
Pode ser aqui feita uma comparação com uma banda nova, jovem, que é praticamente desconhecida. Para se tornar conhecida não é apenas o seu som que é importante, mas também a atitude, algumas histórias interessantes do passado e um nome arrebatador. Estes fatores são quase essenciais para o seu sucesso quanto a própria música (ou produto).
É fácil falar quando se avalia os outros sem ter avaliado a si próprio. Isto é provavelmente verdade, mas nos meu caso foram precisamente estas experiências e impressões que me levaram a querer as coisas de forma diferente.
A minha primeira oportunidade de fazer chegou relativamente cedo. Em 2004 comecei a trabalhar no meu portfólio, numa marca própria a desenvolver em paralelo com o meu emprego estável, visando criar uma estratégia de marca convincente e um nome interessante para este projeto.
O resultado foi “stereoplastic”, uma plataforma que ainda hoje me ajuda e que me demonstrou que mesmo um pequeno profissional criativo da Alemanha pode dar nas vistas a nível internacional, através do desenvolvimento de ideias assentes no senso comum e em recursos visuais persuasivos.
Mas deixemos de falar do passado. Vamos falar do presente – no meu presente e espero que no meu futuro, bem como no futuro dos outros macacos. Vamos, então, falar sobre o blackbeltmonkey.
Após ter trabalhado em agências como a Razorfish, a Elephant Seven e a BBDO Interone, e também ter tido algumas colaborações como freelancer, eu quis finalmente iniciar a minha própria empresa. Estava no momento certo e quis o destino que conhecesse as pessoas certas para que tal acontecesse.
Comecei em junho de 2007, tendo fundado o estúdio blackbeltmonkey com Oliver Bentz e Marcellus Gau. Para além da escolha do nome, que demorou seis semanas, era óbvio que necessitávamos urgentemente de uma IC forte e convincente se queríamos ser levados a sério.
Como responsável pelo desenvolvimento dos projetos de design, coube a mim começar a implementar o mais rápido possível as primeiras ideias. Neste caso, parece que foi quase excessivamente cedo. Centramos demasiado a nossa atenção num site cool e inovador em vez de desenvolver passo-a-passo a nossa IC.
Todo o processo deixou-nos ávidos por mais, e tínhamos de conciliar três opiniões diferentes. Pedalamos um pouco para trás, resolvemos a irritações do programador de Flash e recomeçávamos do zero. Concebi então alguns moodbords e testei várias coisas para perceber o que era exequível. Posto isto, juntamos-nos os três para conversar e descobrimos alguns pontos de vista comuns: a cor, a tipografia e, mais importante que tudo, um logotipo de que todos gostamos e com o qual nos conseguíamos identificar.
Mesmo sendo da opinião de que o design não deve ser um processo democrático, é, no entanto, importante que as pessoas que representam a imagem criada também estejam de acordo com ela.
O logotipo do blackbelmonkey reúne uma fonte modificada e um manuscrito vetorizado, formando em conjunto uma marca que realça a natureza polêmica do nome. O cinturão preto constitui a mais alta categoria no karatê, sendo uma boa metáfora para os mais de dez anos de experiência que temos na área. Depois há o macaco, simbolizando o pensamento lateral criativo e louco.
Queríamos deixar claro que não nos consideramos nem uma agência “anormal” nem tão pouco supra-sumo deste setor. Tal como o Bono, dos U2, uma vez disse tão acertadamente: “Nós não queremos estar in, porque estar in significa que estamos em vias de estar out”. Eu acrescentaria ainda o seguinte: “É preferível alcançar um sucesso duradouro do que ser um prodígio efêmero e passar o resto da vida a repetir tristemente a história, apesar de já ninguém a querer ouvir”.
É evidente que um mero logotipo não cria um IC. Para além do logotipo, existe ainda um problema que mostra a cara do blackbelmonkey e cria assim um ícone.
Escolhemos as cores preta (como referência ao cinturão preto) e branca (remetendo para a folha de papel no qual as ideias ganham forma) e ainda um azul-claro que usamos para qualquer visualização digital. Além disso, a IC inclui as cinco regras da agência, que usamos como manual para as nossas colaborações e a nossa imagem externa.
Conseguimos assim encontrar os elementos centrais da IC do blackbeltmonkey. Construímos um site provisório baseado na IC, destinado a chamar a atenção, e que apresenta um segundo plano um vídeo da nossa festa de inauguração.
Continha ainda informação introdutória sobre nós, bem como links para os nossos portfólios e para um filme de nossa apresentação conjunta. No vídeo recorremos à técnica de animação stop motion, pois achamos que era a mais adequada para demonstrar que a nossa agência estava em movimento e ávida por permanecer em movimento.
As reações ao site foram excelentes – foram tão boas que ficou online durante quase seis meses. Concentramo-nos em abranger todos os tipos de mídia, para que todos que entrassem em contato com a marca balckbeltmonkey pudessem descobrir uma IC poderosa e atual.
No espaço de poucos meses tínhamos placas identificadoras corporativas no exterior do escritório, cartões de visita individuais com as nossas fotografias e as regras do estúdio que cada um tinha escolhido.
Para além disso, as paredes do escritório foram decoradas com o logotipo e o emblema, para que todos soubessem onde estavam ...as primeiras impressões são essenciais para criar uma boa impressão!
Em conjugação com estes elementos essenciais dedicamos a mesma atenção a colocar a IC em todas as ferramentas de trabalho diário, tais como apresentações, faturas, rodapés de e-mails, cabeçalhos de cartas e mesas de trabalho.
Trata-se de um passo que exige muito tempo, devendo, no entanto, ser efetuado na fase inicial da empresa, de forma a definir o mais cedo possível um sistema estandardizado e a documentação necessária.
Assim que reunimos suficientes projetos dos nossos primeiros clientes e do nosso trabalho individual aventuramo-nos no website “real” da agência: baseando-se na imagem do nosso primeiro site experimental e do nosso primeiro site experimental e do nosso filme de apresentação, o estilo da agência está representado por uma diversidade de projetos desenvolvidos, por um toque humorístico e pela técnica de stop-motion.
O site pretende espelhar exatamente o que somos e o que fazemos: comunicação digital, criativa e emocional. O nosso estúdio (optamos por não usar o termo “agência”) tem agora um ano e continuamos a trabalhar nos detalhes da IC. Como tinha dito, trata-se de um processo contínuo a dar muito prazer.
Quando uma IC evolui com ligeireza, as alterações não interferirão com as atividades do dia a dia, apesar do que muitas pessoas possam dizer. Além disso, é uma excelente forma de contratar novos empregados e os colocar a participar ativamente no desenvolvimento do estúdio.
Costumo estabelecer comparações com a indústria musical, à qual também recorro para terminar: acredito que uma Identidade Corporativa, a imagem que uma marca tem, é semelhante à aprendizagem de um instrumento musical. Uma pessoa escolhe um instrumento e depois, sempre que o tocar, terá de praticar para ser bom, para ser um melhor ou para se tornar um virtuoso.
Fonte: Livro Logo Design, com texto de Mike John Otto, da Blackbeltmonkey.