O nome sagrado como símbolo divino

O simbolismo e o emprego do Nome Divino são uma constante de todas as religiões teístas, assim como das formas do Budismo que se aproximam dessa concepção.

Conhece-se o importante uso do Nome entre os hebreus: três Nomes têm a reputação de exprimir a própria Essência da Divindade, dos quais o principal é o Tetragrama, Nome secreto que só pode ser pronunciado pelo Grande Sacerdote.

Outros Nomes (Adonai, Shaddai...) designam prerrogativas ou qualidades divinas. Essa mesma noção de qualidades ou atributos se aplica aos noventa e nove Nomes divinos do Islã, comentados, entre outros, por Ghazzali (Er-Rahman, Er-Rahim, El-Malik...). Aplica-se também — mas desta vez sem fundamento preciso nas escrituras ou na tradição — aos Nomes divinos de Dionísio, o Areopagita (o Bem, o Belo, a Vida, a Sabedoria, o Poder).

Pode evidentemente tratar-se, em todos os casos, de suportes de meditação e de experiências espirituais. Mas o uso mais conhecido do Nome divino — como é mencionado com frequência nos Salmos — é o da invocação, graças à qual ele se identifica misteriosamente com a própria Divindade.

Há como que uma presença real no Nome invocado. A invocação do nome evoca o ser. É por isso que São Bernardo pode fazer dele o alimento, a luz, o remédio.

A invocação limitada a um único Nome divino é praticada no hesicasmo, onde é associada às vezes ao ritmo respiratório, especialmente a partir de Nicéfaro, o Solitário.

São João Clímaco não escreve "Que a lembrança de Jesus e o vos-so sopro seja um só fenômeno"? A invocação e lembrança têm relação entre si, como ocorre no dhikr muçulmano, que possui os dois sentidos e cujo parentesco com as técnicas hesicastas é impressionante ("Diz: Alá, e deixa o universo e tudo o que ele contém").

Semelhança também com o japa hindu, aplicado por certos Swami, cujo exercício espiritual fundamental consiste na repetição do Nome de Ram.

A invocação utiliza igualmente outros nomes, como os de Vishnu e de Krishna. "Deus e Seu Nome são idênticos", dizia Shri Ramakrishna. Segundo o amidismo, a invocação do Nome do Buda pode ser o suficiente para provocar o renascimento na Terra pura de Amida. Daí as fervorosas recitações do Nembutsu nos templos nipônicos.

É preciso observar ainda que a invocação do Nome está ligada, por certos aspectos, ao simbolismo do som e da linguagem. Com efeito, segundo as doutrinas da Índia, o Nome (nama) não é diferente do som (shabda). O nome de uma coisa é "o som produzido pela ação das forças moventes que o constituem" (Avalon).

Por isso, a pronunciação do nome, de certa maneira, é efetivamente criadora ou apresentadora da coisa.
Nome e forma (nama e rupa) são a essência e a substância da manifestação individual: esta é determinada por elas. Do que precede, deduz-se facilmente que nomear uma coisa ou um ser equivale a adquirir poder sobre eles: daí a importância capital atribuída na China às denominações corretas; a ordem do mundo emana disso.

A Escola dos Nomes (Ming-kia) leva ao extremo todas as consequências desse fato. Diz-se também que Adão foi encarregado (Gênesis, 2, 19) de dar nomes aos animais: era conceder-lhe poder sobre eles, poder que continua a ser uma das características da condição edênica.

Para os egípcios da Antiguidade, "o nome pessoal é bem mais que unisigno de identificação. É uma dimensão do indivíduo. O egípcio crê no poder criador e coercitivo do nome. O nome será coisa viva."

Encontram-se no nome todas as características do símbolo:

  1. ele é "carregado de significação";
  2. escrevendo ou pronunciando o nome de uma pessoa, "faz-se com que ela viva ou sobreviva", o que corresponde ao dinamismo do símbolo;
  3. o conhecimento do nome "proporciona poder" sobre a pessoa: aspecto mágico, liame misterioso do símbolo.

O conhecimento do nome intervém nos ritos de conciliação, de feitiço, de aniquilação, de possessão etc. "Seu nome não estará mais entre os vivos"; essa sentença é a mais radical das condenações à morte.

O poder do nome não é apenas chinês, egípcio ou judeu; pertence à mentalidade primitiva. Conhecer o nome, pronunciá-lo de um modo justo é poder exercer um domínio sobre o ser ou sobre o objeto. A esse respeito, o pensamento judaico e a tradição bíblica são rigorosamente unânimes.

O tetragrama divino está carregado de energia; é por isso que é empregado nos sortilégios. Se o nome é pronunciado em voz alta, a terra inteira é tomada de estupor; por essa razão, os doutores judeus queriam conservar secreta a sua pronunciação.
Divulgá-la seria permitir que os feiticeiros fizessem mau uso dele.

O nome divino designa a própria identidade do Deus. Juda ben Samuel Halevi confronta as significações do nome Elohim e do Nome Tetragrama (Jahvé, Jeová). O sentido deste ultimo não pode ser o resultado de um raciocínio; nasce de uma intenção, de uma visão profética. Assim, o homem que tenta apreender o nome separa-se dos eleitos de sua espécie e chega ao nível angélico. Por isso mesmo, torna-se outro homem.

Na tradição do Islã, o Grande Nome al-smu'l-a'zam é o símbolo da essência oculta de Deus. Um hadith profético declara: Deus tem 99 nomes, ou seja 100 menos um; aquele que os conhecer entrará no Paraíso.

O Coráo (7, 179): "Deus tem belos nomes; invocai-o por essas denominações e fugi dos que se enganam nos Seus nomes." O Grande Nome é a denominação desconhecida que completa as 100.

O conhecimento do Grande Nome de Deus "permite realizar milagres, e foi graças a ele que Salomão conseguiu subjugar os demônios; é o único nome ignorado entre os 40.000 que Deus possui.

Para conhecê-lo, é preciso contar as palavras do Cotão em ordem inversa (acoplando a primeira à última); a derradeira palavra, no meio, é o Grande Nome. Se alguém faz uma invocação, pronunciando-o, todos os votos são atendidos".

Segundo relatos, Maomé teria dito que ele se encontrava na segunda, na terceira ou na vigésima surata, onde são outorgados a Deus os títulos de Vivo (al-Haiy), de Aquele que se basta a si mesmo (al-Qai yum) ou de Ele (Hu).

É atribuída ao Grande Nome uma virtude mágica, pois é tido como capaz de obrigar a atender uma prece. O objetivo constante dos mágicos é, portanto, conhecê-lo.

Os amuletos e talismãs apresentam frequentemente os nomes de Deus. Esta noção de um Nome todo-poderoso da divindade, conhecido apenas por alguns iniciados, constitui um provável empréstimo que o Islã tomou do Judaísmo. Para um místico como El-Buni, o Grande Nome não é senão o próprio homem.
Para o mundo celta, o nome está estreitamente ligado à função. O nome de uma personagem, de um povo, de uma cidade ou de um lugar qualquer é sempre escolhido, por um druida, em virtude de uma particularidade ou de uma circunstância notáveis.

Cuchulainn, que se chamava antes Setanta, recebeu seu nome do druida Cathbad; depois de matar o cachorro do ferreiro Culann, ele emitira um julgamento táo justo que todos os assistentes, o rei e o druida ficaram maravilhados.

Conhece-se, tanto na Gália como na Irlanda, um bom número de antropônimos teofóricos. Em época remota, a tradição céltica sempre implica uma equivalência real entre o nome da personagem e suas funções teológicas ou sociais, ou ainda entre seu nome e seu aspecto ou comportamento.

Origem do nome Jesus Cristo

À medida que o Cristianismo se disseminou por Roma, ele chegou ao ponto de assumir o latim como sua língua oficial, por isso o nome grego de Jesus foi latinizado para Iesus Christus. Em português = Jesus Cristo.

Cristo não é um sobrenome, e sim um epíteto (título) dado a Jesus e significa “ungido” em grego.

Jesus era judeu e ele tinha um nome aramaico: Yehoshua (ou Yeshua) ben Youssef, isto é, Josué, filho de José. O aramaico foi um idioma derivado do hebraico, língua falada pelos judeus do século I da nossa era. 

Mas Jesus também era conhecido como Jesus de Nazaré, ou Jesus o Nazareno, em razão de sua cidade de origem. Ao ter sido batizado no rio Jordão e reconhecido como o mensageiro de Javé que viera libertar o povo judeu da opressão romana (Yehoshua significa «Javé salva»), Jesus recebeu o epíteto de Mashiach («Messias»), que em hebraico quer dizer «ungido».

Os evangelhos e algumas cartas do Novo Testamento foram redigidos num grego tardio chamado koiné, e o nome Yeshua Mashiach (dado por João Batista) foi traduzido para Iesoûs ho Khristós, literalmente «Jesus o Ungido».

À medida que o Cristianismo se disseminou por Roma, o nome grego de Jesus foi latinizado para Iesus Christus, e posteriormente as línguas traduziram como:

  • português: Jesus Cristo
  • espanhol: Jesucristo
  • inglês: Jesus Christ
  • francês: Jésus-Christ
  • alemão: Jesus Christus
  • dinamarquês: Jesus Kristus
  • polonês: Jezus Chrystus
  • húngaro: Jézus Krisztus
  • romeno: Isus Hristos
  • turco: Ísa Mesih'in

 

Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.


Página atualizada na Agência EVEF em 07/04/2022 por Everton Ferretti