A simbologia das palavras

simbologia historica das palavras

Os dogons distinguem dois tipos de palavra, que chamam de palavra seca e palavra úmida. A palavra seca ou palavra primeira, atributo do Espírito Primeiro Amma, antes de ele ter empreendido a criação, é a palavra indiferenciada, sem consciência de si. Ela existe no homem, assim como em todas as coisas, mas o homem não a conhece: é o pensamento divino, em seu valor potencial e, no nosso plano microcósmico, é o inconsciente.

A palavra úmida germinou, como o próprio princípio da vida, no ovo cósmico. É a palavra que foi dada aos homens. É o som audível, considera-do uma das expressões da semente masculina, o equivalente do esperma. Ela penetra na orelha, que é outro sexo da mulher, e desce para enrolar-se em torno do útero para fecundar o germe e criar o embrião. Sob essa mesma forma de espiral, ela é a luz que desce à terra, trazida pelos raios do sol e que se materializa, no útero terrestre, na forma de cobre vermelho.

A palavra úmida, como a água úmida, a luz, a espiral, o cobre vermelho, não exprime, então, senão as diferentes manifestações — ou acepções — de um símbolo fundamental, o do mundo manifesto, ou de seu senhor o Nommo, deus da água.

Para os bambara, para os quais a totalidade dos conhecimentos místicos está contida na simbologia dos vinte e dois primeiros números, Um, a unicidade primeira, é o número do Senhor da Palavra e da própria Palavra.

O mesmo símbolo cobre as noções de chefia, de direito de primo-genitura, de cabeça, de consciência (DIEB). A um nível e dentro de um contexto diferentes, ideia análoga transparece em Jacob Boehme, para quem o Verbo, palavra de Deus, é "movimento ou vida da divindade, e todas as línguas, forças, cores e virtudes residem no Verbo ou palavra".

A noção de palavra fecundante, de verbo que traz o germe da criação, colocado no despontar desta última, como a primeira manifestação divina, antes que qualquer coisa tenha tomado forma, encontra-se nas concepções cosmogônicas de muitos povos.

É o caso da África negra (dogons), dos povos guarani do Paraguai, para os quais Deus criou o fundamento da língua antes de materia-lizar a água, o fogo, o sol, as névoas vivificantes, e por fim a primeira terra.

A associação Palavra-Princípio vital imortal se encontra entre os indígenas da América do Sul, especialmente nas crenças dos taulipangs, para os quais o homem é dotado de cinco almas, das quais apenas uma chega ao outro mundo depois da morte, aquela que contém a palavra e que deserta periodicamente o corpo durante o sono.

Entre os canaques da Nova Caledônia, segundo a expressão de Maurice Leenhardt, a palavra é um ato; ela é o ato inicial, daí o terrível poder da maldição, tradicionalmente considerada uma arma absoluta; não pela força daquele que maldiz, pois o próprio homem não tem nenhuma força intrínseca, mas por esse ato que é a palavra de Deus ou do Totem invocado, que corta o fluxo da vida e anula o homem maldito. Na tradição bíblica, o Antigo Testamento conhecia o tema da Palavra de Deus e o da Sabedoria, que existia antes do mundo, em Deus; pela qual tudo foi criado; enviada à terra para aí revelar os segredos da vontade divina; retornando a Deus, com a missão terminada. Do mesmo modo, para São João, o Verbo (a Palavra) estava em Deus; preexistente à criação; ele veio ao mundo, enviado pelo Pai, para desempenhar uma missão: transmitir ao mundo uma mensagem de saudação; terminada a sua missão, ele retorna ao Pai.

Cabia ao Novo Testamento e particularmente a João, graças ao fato da Encarnação, destacar claramente o caráter pessoal dessa Palavra (Sabedoria), sub-sistente e eterna (João, 1,1).

No pensamento grego, a palavra, o logos, significou, não apenas a palavra, a frase, o discurso, mas também a razão e a inteligência, a ideia e o sentido profundo de um ser, o próprio pensamento divino.

Para os estoicos, a palavra era a razão imanente na ordem do mundo. É com base nessas noções que a especulação dos Padres da Igreja e dos teólogos desenvolveu e analisou no decorrer dos séculos o ensinamento da Escritura e, muito articularmente, a teologia do Verbo.

Sejam quais forem as crenças e os dogmas, a palavra simboliza de uma maneira geral a manifestação da inteligência na linguagem, na natureza dos seres e na criação contínua do universo; ela é a verdade e a luz do ser.

Essa interpretação geral e simbólica em nada exclui uma fé precisa na realidade do Verbo divino e do Verbo encarnado. Dionísio, o Areopagita, lançou as bases de uma síntese, em um trecho extremamente rico de seu tratado dos Nomes divinos.

A palavra é o símbolo mais puro da manifestação do ser, do ser que se pensa e que se exprime ele próprio ou do ser que é conhecido e comunicado por um outro.

simbolo vogais

Simbolos vogais

A predominância de uma vogal numa palavra, num discurso, num estilo, estaria carregada de sentido, de um valor simbólico esotérico, próprio para agir sobre a sensibilidade e a compreensão do ouvinte sem que ele perceba.

Assim, temos que:

  • a evocaria o grave, o perfeito, o amplo, o total, o trágico, o estranho, o majestoso;
  • e, o ser, o estado, a serenidade;
  • i, o brilhante, o ritmo, o devenir, o lírico, o ilusório;
  • o, o fechado, a morte, o ordenado, a ordem, o alto, o inexorável;
  • u, a música, o murmúrio, a duração, o estudo, a cultura, o macio, o escoamento.

Podemos também lembrar do soneto de Rimbaud:

A preto,
E branco,
I vermelho,
U verde,
O azul
vogais... Um dia contarei seus nascimentos latentes...

A palavra, sonorizada pela vogal, é o alquimista da alma. Rimbaud procurou uma língua que seria da "alma para a alma, tudo resumindo, perfumes, sons, cores, do pensamento que prende o pensamento...", escreveu ele numa carta a Demeny, definindo, assim, o símbolo. "Inventei a cor das vogais... organizei a forma e o movimento de cada consoante e, com ritmos instintivos, gabei-me de ter inventado um verbo poético acessível, mais dia menos dia, a todos os sentidos".

 

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Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.


Página atualizada na Agência EVEF em 06/04/2022 por Everton Ferretti