O Leão como símbolo histórico e religioso

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Poderoso, soberano, símbolo solar e luminoso ao extremo, o leão, rei dos animais, está imbuído das qualidades e defeitos inerentes à sua categoria.

Se ele é a própria encarnação do Poder, da Sabedoria, da justiça, por outro lado, o excesso de orgulho e confiança em si mesmo faz dele o símbolo do Pai, Mestre, Soberano, que, ofuscado pelo próprio poder, cego pela própria luz, se torna um tirano, crendo-se protetor.

Pode ser portanto admirável, bem como insuportável: entre esses dois poios oscilam suas numerosas acepções simbólicas.

Krishna, diz a Gita, é o leão entre os animais (10, 30); Buda é o leão dos Shakya; Cristo é o leão de Judá. Ali, genro de Maomé, glorificado pelos xiitas, é o leão de Alá, razão pela qual a bandeira iraniana é estampada com um leão coroado. Dionísio Areopagita, explica por que a teologia dá a certos anjos o aspecto de leão: a forma do leão torna compreensível a autoridade e a força invencível das inteligências santas, este esforço soberano, veemente, indomável, para imitar a majestade divina, assim como o segredo perfeitamente divino, concedido aos anjos, de envolver o mistério de Deus em uma obscuridade majestosa, furtando santamente aos olhares indiscretos os vestígios de seu comércio com a divindade, tal qual o leão que, segundo dizem, apaga na corrida a marca de seus passos, quando foge na frente do caçador.

Ele remete ao Apocalipse, onde o primeiro dos quatro seres vivos, cheios de olhos na frente e atrás, ao redor do trono celeste, é descrito sob a forma de um leão; e a Ezequiel (1, 4-15), onde o carro de Jeová aparece com quatro animais, semelhantes a carvões de fogo ardente, tendo cada um quatro faces, dentre as quais uma de leão.

O brasão de Açoca, o rei budista que reconquistou a Índia dos gregos e persas e a reunificou, tinha a efígie de três leões, com as costas coladas um no outro, em cima de um pedestal em forma de roda, com a divisa: é a verdade que triunfa.

Tais são, ainda hoje, as armas da Índia. Esses três leões, dado o fervor budista do rei, poderiam simbolizar a Tripitaka, as Três Cestas, coletânea canônica dos ensinamentos de Buda, bem como o Triratna, a Gema Tríplice; Buda (o Fundador ou o Desperto), Dharma (a Lei), Samgha (a comunidade).

Símbolo da justiça, é, por essa qualificação, garantia do poder material ou espiritual. Por isso serve de montaria ou de trono a numerosas divindades, assim como ornamenta tanto o trono de Salomão como o dos reis da França ou dos bispos medievais.

É também o símbolo do Cristo-Juiz e do Cristo-Doutor, de quem ele carrega o livro ou o rolo. Sabe-se que é, na mesma perspectiva, o emblema do evangelista São Marcos.

O leão de Judá de que se fala ao longo de toda a Escritura, desde o Gênesis (43, 8) se manifesta na pessoa de Cristo. Foi ele, diz o Apocalipse (5, 5), quem venceu de modo a poder abrir o livro e seus sete selos.

Mais precisamente, na iconografia medieval, a cabeça e a parte anterior do leão correspondem à natureza divina de Cristo, a parte posterior — que contrasta por sua relativa fraqueza — à natureza humana.

Também serve de trono para Buda e para Kubjika, aspecto de Devi. É a força da xácti, da energia divina. É a forma do avatar Narasimha (homem-leão), a força e a coragem, o destruidor do mal e da ignorância.

Soberania, mas também força do Dharma, o leão corresponde a Vairocana, supremo Buda central, e, também, a Manjushri, o portador do conhecimento.
O Buda ruge com o rugido do leão — como o Brihaspati védico: "Quando ensina o Dharma a uma assembleia, ouve-se, com efeito, seu rugido de leão" (Anguttaranikaya, 5, 32). O que traduz a força da lei, seu poder de abalar e despertar, sua propagação no espaço e no tempo.

A iconografia hindu menciona também a leoa shardula, manifestação do Verbo, que traduz o aspecto temível de Maya, a força da manifestação.

Esse papel do leão cheio de soberba não muda muito da Europa à África. Os bambaras, impressionados por sua força serena, fizeram dele uma alegoria do Saber divino e um grau, na hierarquia social tradicional, que só tem como superior o dos sacerdotes-sábios.

Entretanto, os defeitos desta força tranquila, quando ela chega ao ponto de não poder ser mais questionada, não escaparam nem à sabedoria popular, nem aos místicos e filósofos.

Assim, com a libertação feminina de nossa época, o leão soberbo e generoso tornou-se o macho falocrata, que não sabe ou finge não saber que seu poder é bem relativo. O que não deixa de evocar as observações de São João da Cruz sobre a impetuosidade do apetite irascível do leão, símbolo de uma vontade imperiosa e da força incontrolada; por onde se chega ao leão barrigudo, símbolo da avidez cega, sobre o qual Shiva coloca o pé.

 

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Do leão, símbolo de Cristo, essa cegueira conduz diretamente ao leão-símbolo do Anticristo, igualmente mencionado nas Escrituras. A psicanálise fará dele às vezes o símbolo de um impulso social pervertido: a tendência a dominar como déspota, a impor brutalmente a sua autoridade e a sua força.

Mas o rugido profundo do leão e sua face grande e aberta invocam um simbolismo bem diferente, não mais solar e luminoso, mas sombrio e ctoniano.

O leão, nessa inquietante visão, se assemelha às outras divindades infernais que engolem o dia no crepúsculo e o vomitam na aurora, como o crocodilo de diversas mitologias.

Assim ocorria no Egito, onde os leões eram frequentemente representados aos pares; um de costas para o outro: cada um olhava para o horizonte oposto, um a leste, o outro a oeste.
Chegaram a simbolizar os dois horizontes e o percurso do Sol de uma a outra extremidade da Terra. Vigiando assim o escoamento do dia, representavam o Ontem e o Amanhã. "E, como a viagem infernal do Sol o conduzia da goela do Leão do Ocidente à do Leão do Oriente, de onde renascia pela manhã, eles tornaram-se o agente fundamental do rejuvenescimento do astro".

De um modo mais geral, simbolizaram esse rejuvenescimento de vigor que a alternância da noite e do dia, do esforço e do repouso, assegura.

Da mesma forma, no Extremo Oriente, o leão, animal puramente emblemático, tem profundas afinidades com o dragão, com o qual chega a se identificar. Desempenha um papel de proteção contra as influências maléficas.

Danças do leão (Shishimai) têm lugar no Japão no dia primeiro de janeiro e em certos dias de festa. Desenrolam-se diante dos santuários xintoístas, no meio das ruas e até nas casas particulares. Músicos acompanham os dançarinos. Estes usam uma máscara em forma de leão.

Um homem leva a máscara e dois ou três outros representam o corpo sob um pano. A cabeça do leão é vermelha. Esse leão tem a reputação de afugentar os demônios e de trazer saúde e prosperidade para as famílias, vilas, comunidades.

Como se vê, a visão de pesadelo antes esboçada acabou por ser exorcizada, e o simbolismo ctoniano foi invertido, a imagem de morte tornando-se penhor de renovação, portanto de vida. É o que se observa também em outras áreas culturais, onde o "leão, devorando periodicamente o touro, exprime há milênios a dualidade antagonística fundamental do dia e da noite, do verão e do inverno".

Chegará a simbolizar não apenas o retorno do Sol e o rejuvenescimento das energias cósmicas e biológicas, mas também as próprias ressurreições. Túmulos cristãos eram ornados com leões. "Por si só, o leão é um símbolo de ressurreição".

 

Leão como símbolo de reis e países

Vários países, cidades, principados e regiões autônomas possuem brasões de armas e escudos simbólicos que trazem as imagens de leões, como por exemplo o brasão de armas da Bulgária exibido abaixo:

 

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O brasão de armas da Bulgária foi adotado em 1997, substituindo as antigas armas do regime comunista deposto em 1990. Um escudo vermelho com um leão dourado coroado é suportado por dois outros leões dourados coroados. O escudo é sob uma coroa real historica. Sob o escudo são dois ramos de carvalho de verde. A lema nacional é Съединението Прави Силата, que significa na Bulgária: A união faz a força. Um leão foi o emblema dos czares da Bulgária depois o século XIII, mas os cores atuais de ouro e vermelho escuro datam só no século XVIII.

 

Leão como símbolo de segurança e proteção

Como símbolo de segurança, proteção e solidez, o leão já foi usado como símbolo nos desenhos de logotipos de várias marcas de corretoras de seguros e seguradoras.

 

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Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.


Página atualizada na Agência EVEF em 18/03/2022 por Everton Ferretti