Medicina: simbolismo histórico

Entre os povos indígenas da pradaria (EUA), o poder da medicina é a força essencial que preside à aquisição da sabedoria do corpo e do espírito, busca que constitui o objetivo essencial da vida.

A aquisição desse poder comanda a vida ativa do indígena, em sua maior parte. Tendo os homens atingido um nível elevado dessa medicina, eram muitas vezes curadores profissionais.

Mas o sentido da palavra vai bem além das práticas do Doutor ou do Curador indígena [...]. Existem também diversas sociedades secretas chamadas sociedades de medicina [...]. Elas formam uma estrutura no interior da estrutura tribal [...] que dará, por exemplo, à tribo, seus cirurgiões, seus sacerdotes da chuva, seus bobos, seus guardiães de sementes ou de objetos de culto.

Cada uma dessas sociedades possui seu próprio pacote de medicina que é para o grupo aquilo que é o saco de medicina para o indivíduo: o guardião de sua vida e de seu destino.

Cada um desses pacotes é acompanhado por um corpo de sabedoria adquirida, em parte instrução prática, em parte tradição, em parte canto e ritual, encarnando o conjunto uma filosofia.

A medicina é a arte de obter o espírito protetor ou animal — medicina, entre os athabascas (Canadá).

Desde a idade de cinco anos a criança é submetida, à parte do acampamento, a um teste de jejum propiciatório de sonhos. Esfomeada, ela atinge um estado de semi-inconsciência alucinatória.

A primeira imagem que se apresenta ao espírito do adormecido se torna seu espírito protetor e não o deixa mais. Ele levará por toda a sua vida sobre si um fragmento da aparência corporal desse espírito, que pode ser um animal, mas também um fenômeno natural (água, vento) ou um espírito dos mortos. Nesse último caso, ele portará um símbolo gravado sobre um fragmento de casca de bétula. Invocado com cantos ou batidas de tambor, esse espírito ou animal da medicina se torna essencial ao caçador: sem ele, é a morte... Uma hierarquia de espíritos mais e mais poderosos e numerosos ergue-se até o topo da pirâmide religiosa e social, ao Xamã. Seus remédios são infalíveis, e seu papel, essencial para a sobrevivência dos caçadores nômades. Suas "medicinas extraordinárias são o abrigo em que se refugia uma existência incessantemente ameaçada.

Entre os gregos, foi o centauro Quíron que ensinou a medicina a Asclépio (Esculápio). A causa das curas e até das ressurreições que ele realizava procedia de uma única fonte: o sangue da Górgona, que lhe deu Arena. O sangue corrido das veias do lado esquerdo da Górgona era um veneno violento; o das veias do lado direito, benéfico.

Asclépio se mostrava hábil nas dosagens e multiplicava as ressurreições. Zeus o fulminou com um raio e o transformou em constelação, o serpentário (caduceu). Do mesmo modo, Adão foi expulso do Paraíso por ter tocado na árvore do conhecimento e tentado se tornar igual a Deus, possuindo a fonte da vida.

O símbolo de Asclépio, o médico fulminado, sublinha o caráter sagrado da vida, que apenas pertence a Deus. O homem senhor da vida é o homem que superou Deus. O mito lembraria o sentido da medida em que o homem deve tentar buscar conhecimento.

Ele ilustra um momento da busca eterna da Verdade que se arrisca a ser confundida no homem com o orgulho de se tornar igual a Deus. Não existem deuses, diziam os povos indígenas do Mackenzie, existe apenas a medicina. Subsiste até os nossos dias o medo das manipulações genéticas.

 

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O símbolo gráfico da medicina

O símbolo da medicina tem inspiração em mitos da antiguidade clássica grega e em algumas ocasiões já foi confundido com o símbolo de outra profissão: contador ou do profissional da contabilidade.

É comum encontrarmos médicos e hospitais que exibem um logotipo ou símbolo gráfico com uma cobra enrolada em um bastão. Isso acontece com frequência porque é o símbolo da medicina, conhecido como bastão de Esculápio, ou bastão de Asclépio.

O objeto era o símbolo do deus que representava a medicina, segundo a antiga mitologia grega. Além disso, a cobra é utilizada por também estar presente em algumas associações com o trabalho dos médicos.

O símbolo é comumente utilizado em verde, uma vez que essa cor também está ligada à medicina.

Mitologia

A lenda de Esculápio tem origem em cerca de 700 anos a.C. e foi narrada por Hesíodo. Segundo o mito, ele era filho de Apolo e Côronis e nasceu no Peloponeso. Enquanto Côronis ainda estava grávida, a irmã de Apolo, Diana (que também era sua esposa), teve uma crise de ciúmes e matou a gestante.

O bebê, no entanto, foi salvo por Apolo. Enquanto Côronis estava sendo cremada, o deus pulou na pira funerária e salvou a criança. Logo após o resgate, Esculápio foi entregue ao centauro Quíron, que lhe ensinou habilidades de cura.

Rapidamente, Esculápio superou seu mestre e se tornou capaz até de ressuscitar os mortos. Assim, o deus Hades se preocupou, temendo a redução de almas em seu reino. Foi aí, então, que Zeus utilizou um raio para eliminar o curandeiro.

Ainda de acordo com a mitologia, durante uma visita a seus pacientes, Esculápio viu uma cobra se enrolar em seu cajado. Ele até tentou expulsar o animal, mas não conseguiu.

Eventualmente, Esculápio se tornou o deus da medicina e o bastão com a serpente se tornou o símbolo da profissão. A Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, utiliza o símbolo da medicina em sua bandeira.

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Serpente

Além de estar presente na lenda de Esculápio, a serpente se tornou símbolo da medicina por alguns conceitos variados. O primeiro deles teve origem ainda na Babilônia. Isso porque esse povo já relacionava o animal com a cura.

Segundo a lenda de Gilgamesh, a serpente comeu a erva da vida e se rejuvenesceu após trocar de pele. Dessa maneira, essa mudança passou a ser símbolo de cura em várias culturas antigas.

Por outro lado, o veneno simboliza o antídoto. Assim, a serpente simboliza ao mesmo tempo a dualidade da doença e da cura.

O animal ainda simboliza o poder. Uma vez que o conhecimento da medicina é extremamente poderoso, o símbolo ganhou associação direta com as habilidades de cura.

 

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Símbolo da medicina ou da contabilidade: uma antiga confusão 

Em algumas representações da medicina, o bastão de Esculápio é substituído pelo caduceu de Hermes. No entanto, este símbolo não representa a medicina.

A confusão é antiga e aconteceu pois os dois possuem serpentes ao redor de um bastão. Porém, o caduceu de Hermes conta com duas serpentes e duas asas na parte de cima do cajado.

O caduceu de Hermes se relaciona ao comércio e também foi utilizado como símbolo da profissão do contador e das ciências contábeis (contabilidade).

Sendo assim, a confusão entre os dois símbolos entra em conflito com o próprio Código de Ética da Medicina. Isso porque, segundo o texto “a Medicina não pode, em qualquer circunstância ou de qualquer forma, ser exercida como comércio”.

 

 

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Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.


Página atualizada na Agência EVEF em 18/03/2022 por Everton Ferretti