Cidade e sua simbologia histórica

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A construção das cidades, primitivamente imputada a Caim (Gênesis, 4, 17), é o sinal da sedentarização dos povos nômades, partindo de uma verdadeira cristalização cíclica.

É por essa razão que as cidades são tradicionalmente quadradas, símbolo da estabilidade, enquanto as tendas ou os acampamentos nômades são em geral redondos, símbolo de movimento circular.

Também é por esta razão que o Paraíso terrestre é redondo e tem relação com o simbolismo vegetal, enquanto a Jerusalém celeste, que encerra o ciclo, é quadrada e mineral.

As cidades, instaladas no centro do mundo, refletem a ordem celeste e recebem a sua influência. Pela mesma razão, em certos casos são também as imagens de centros espirituais. Assim, a Heliópolis primordial, cidade do sol; Salem, a cidade da paz; Luz, a amendoeira, que Jacó denominou Beith-el, a casa de Deus.

O nome Heliópolis evoca naturalmente o simbolismo zodiacal. Lembraremos também que a Jerusalém celeste possui doze portas (três em cada direção), que correspondem, manifestamente, aos doze signos, a não ser que sejam as doze tribos de Israel, e que a divisão duodenária também fosse praticada nas cidades romanas e, menos explicitamente, nas hindus.

Percebe-se, então, o papel que a astrologia deve desempenhar na construção das cidades, que refletem os movimentos do sol, fixando-os, e cujo plano frequentemente coincide com as posições da constelação Ursa Maior.

Em Roma, como na China, na Índia e em Angkor, o plano da cidade é estabelecido com o auxílio do relógio solar. No meio do verão, o relógio não deverá projetar sombra sobre a cidade, situada em seu centro. O papel da geomancia também é importante, pois o local deve ser estabelecido de acordo com a convergência dos ventos, das águas ou das correntes telúricas, segundo a disposição da sombra e da luz.

As cidades são geralmente quadradas e orientadas. Na Índia, os quatro pontos cardeais correspondem às quatro castas.

Em Roma, como em Angkor e em Pequim, e como em todo país de influência sinoide, duas vias perpendiculares ligam-se às quatro portas principais e fazem com que o plano da cidade se assemelhe à mandala, quaternário simples de Shiva. A sua extensão — a mandala de 64 casas — é o plano de Ayodhya, a cidade dos deuses. Essa disposição faz da capital o centro e o resumo do império; as quatro direções do espaço dela emanam, as quatro regiões para ela confluem.

Nas quatro direções difunde-se a virtude real, até as extremidades da terra; pelas portas são recebidas as homenagens dos vassalos, expulsas as más influências.
Assim, na China, a cidade é o centro de uma série de quadrados encaixados, o que lembra a forma da muralha tripla dos celtas e dos gregos, assim como a dos templos angkorianos.

Segundo Platão, Atlântida, a capital dos atlantas era disposta de modo semelhante, mas de forma redonda, sím-bolo da perfeição celeste, em círculos encaixados.

No centro do Ayodhya situa-se o Brahmapura, a morada de Brahma; no centro da mandala, o Brahmastana; no centro da Jerusalém celeste reside o Cordeiro.

A palavra king, que designa a capital chinesa, tem o sentido de pivô; no centro das cidades angkorianas se estabelece a montanha, imagem do Meru, centro e eixo do mundo.

As muralhas exteriores correspondem às cadeias de montanhas que encerram o universo. Esse templo-montanha contém o linga real — da mesma forma que o imperador chinês se estabelece no centro de sua capital-pivô.

Não dizem que Pataliputra foi construída no próprio local do Meru? E Kash, a cidade luz, que é a ancestral mítica de Benares, não corresponde ao topo da cabeça, ponto através do qual o homem entra em contato com o céu? A Cidade divina (Brahmapura) é também uma designação do coração, centro do ser onde reside Purusha. E no fundo, o simbolismo não é muito diferente do que o do patriarca zen Huei-neng, quando diz que o corpo é a cidade cujos sentidos são as portas, e cujo rei é o Eu, o sing, ou a natureza em si.

Segundo o pensamento medieval, o homem é um peregrino entre duas cidades: a vida é uma passagem da Cidade de baixo à de cima. A cidade de cima é a dos santos; aqui embaixo, os homens, peregrinos por graça, cidadãos da cidade de cima (por eleição) peregrinam em direção ao reino.

Segundo a psicanálise contemporânea, a cidade é um dos símbolos da mãe, com o seu duplo aspecto de proteção e de limite. Em geral tem relação com o princípio feminino. Da mesma forma que a cidade possui os seus habitantes, a mulher encerra nela os seus filhos. É a razão por que as deusas são representadas com uma coroa de muros.

No Antigo Testamento, as cidades são descritas como pessoas; este tema também é retomado no Novo Testamento, do qual a epístola aos Gálatas oferece um exemplo precioso: "Mas a Jerusalém do alto é livre, e esta é a nossa mãe, segundo está escrito: Alegra-te, estéril, que não deste à luz, grita de alegria [...]" (4, 26). A cidade de cima gera através do espírito, a cidade de baixo, através da carne; tanto uma quanto a outra são mulheres e mães. O simbolismo da cidade é particularmente desenvolvido no Apocalipse (17, 1).

 

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Babilônia, a Grande, nome simbólico de Roma (que contava, então, com um milhão de habitantes e cujo império atingia o seu auge), é descrita como a antítese, o oposto, da Jerusalém de cima: Um dos Anjos das sete taças veio dizer-me: Vem! Vou mostrar-te o julgamento da grande Prostituta sentada à beira de águas copiosas. A mulher estava vestida de púrpura e escarlate, adornada de ouro, pedras preciosas e pérolas, e tinha na mão um cálice de ouro cheio das repugnantes impurezas da sua prostituição. Sobre a sua fronte estava inscrito um mistério: "Babilônia, a Grande, a mãe das repugnantes prostitutas da terra." Vi então que a mulher estava embriagada com o sangue dos santos e com o sangue dos mártires de Jesus.

 

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A Roma das sete colinas era a cidade símbolo dos homens e dos deuses naquele tempo. Era o símbolo invertido da cidade, a anticidade, isto é, a mãe corrompida e corruptora, que, ao invés de dar vida e bênção, atraía morte e maldição.

 

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Situada às margens do rio Ganges, Varanasi é conhecida como “a cidade que ilumina os espíritos”. Seguindo as tradições chivaístas, as pessoas vão à Varanasi para morrer em paz com os deuses ou purificar-se nas águas do rio Ganges. As escrituras hindus revelam que foi Shiva que fundou a cidade quando pisou numa das margens do Rio Ganges. Por ser o deus encarregado da transformação, é ali nessas mesmas margens que os hindus cremam seus mortos.

Varanasi é um grande centro comercial e industrial, tendo se destacado no passado na produção e distribuição de marfim, seda e perfumes. Na época de Sidarta Gautama (o Buda) a cidade era a capital do reino de Kasi, o mais poderoso entre os dezesseis Mahajanapadas. Foi numa cidade próxima (Saranate) que Buda fez seu primeiro sermão, por volta de 528 AC, marcando a fundação do budismo.

Posteriormente a cidade foi conquistada pelo Reino de Côssala, mas se manteve um importante centro cultural por milênios. Por volta do ano 635 DC foi visitada pelo monge chinês Xuanzang, que registrou que a cidade era um centro religioso, artístico e educacional, e que se estendia por 5 km ao longo da margem ocidental do rio Ganges.

Atualmente a cidade possui mais de 3 milhões de habitantes e é uma das cidades continuamente habitadas mais antigas do mundo.

 

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O luxo da cidade de Dubai está na ousadia do seu projeto mais ambicioso, o Burj Khalifa, o edifício mais alto do mundo com 160 andares e 828 metros de altura. Dubai passou por mudanças significativas nas últimas décadas, em 1950 a economia dependia da pesca e de uma pequena indústria de petróleo, então a partir de 1962 a sociedade e a economia se transformaram.

Hoje o PIB per capita se compara aos países da Europa Ocidental. Os Emirados Árabes Unidos diversificaram e se tornaram um grande centro comercial e turístico. Dubai é fascinante com suas tradições profundas e ambições futuristas, contagia a todos com sua energia e otimismo, a cidade com arquitetura audaciosa que criou o prédio mais alto do mundo, uma ilha em forma de palmeira e a montanha russa mais rápida do mundo

 

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A lenda da cidade perdida de Atlântida baseia-se na existência de uma ilha chamada Atlântida, que, juntamente com todos os seus habitantes, foi engolida pelo oceano.

Situada no Oceano Atlântico, esta terra possuía uma civilização mais antiga do que a dos Árias (Arianos) e era mais civilizada do que a egípcia. A sua perfeição e felicidade eram tão grandes que os próprios deuses ficaram invejosos e resolveram seduzir os habitantes com a ambição do poder e das conquistas.

Os atlantes formaram exércitos invencíveis, só possíveis com os seus elevados conhecimentos científicos. Invadiram a Europa e a Ásia, matando e pilhando, vencendo e escravizando. Dominadores da Terra, voltaram vitoriosos a Atlântida, acompanhados de tesouros incalculáveis.

Recebidos com êxtase pelo seu povo, os guerreiros atlantes, orgulhosos e arrogantes, em vez de agradecerem aos deuses, elegeram um imperador humano como o deus atlante na Terra. Ressentidos, os deuses fizeram tremer a terra e provocaram inundações tais, que, no dia seguinte, no lugar onde antes existia a cidade de Atlântida, estendia-se o oceano atlântico.

Esta lenda de mistério e encanto aparece pela primeira vez em Platão (século 5 antes de Cristo), que por sua vez se baseou nos escritos de Sólon, legislador grego, que tinha vivido 150 anos antes de Platão, e que tinha ouvido a história de Atlântida a sacerdotes egípcios, durante a sua viagem ao Egito.

 

 

Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.


Página atualizada na Agência EVEF em 25/03/2022 por Everton Ferretti