A roda como um símbolo histórico

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A roda participa da perfeição sugerida pelo circulo, mas com uma certa valência de imperfeição, porque ela se refere ao mundo do vir a ser, da criação contínua, portanto, da contingência e do perecível. A roda é o símbolo dos ciclos, os reinícios, as renovações.

O mundo é como uma roda numa roda, como uma esfera numa esfera, segundo o pensamento de Nicolau de Cusa. Como a asa, a roda é um símbolo privilegiado do "deslocamento, da libertação das condições de lugar e do estado espiritual que lhes é correlativo".

É um símbolo solar na maior parte das tradições: rodas abrasadas descendo das alturas do Solstício de verão, procissões luminosas se desenrolando sobre as montanhas no Solstício de inverno, rodas transportadas em cima de carros por ocasião das festas, rodas esculpidas sobre as portas, roda da existência etc. Numerosas crenças, fórmulas, práticas associam a roda à estrutura dos mitos solares.

Na Índia, por exemplo, os Sete atrelam o carro numa roda única: um único corcel de nome sétuplo move a roda de cubo triplo, a roda imortal que nada faz parar, sobre a qual repousam todos os seres.

Símbolo cósmico e, ao mesmo tempo, símbolo solar entre os celtas e os indianos. Mag Ruith é o mago das rodas, magus rotarum; é com a ajuda de rodas que ele pronuncia seus augúrios druídicos. Ele é também senhor, mestre das rodas, neto do rei universal. É o equivalente do chakravarti, o que move a roda. Na China, o detentor da roda tem em seu poder o império celeste.

Mas como explicar esta constância do símbolo da roda na maioria das culturas?

O simbolismo muito difundido da roda provém, ao mesmo tempo, de sua estrutura radial e de seu movimento. Os raios da roda fazem com que ela apareça como um símbolo solar. É ligada a Apolo, bem como ao raio e à produção do fogo. O chakra é um atributo de Vishnu, que é um aditya, um sol. Entretanto, esse chakra é mais propriamente um disco que uma roda.

Nos textos e na iconografia da Índia, a roda tem frequentemente doze raios, número zodiacal, número do ciclo solar. As rodas de carro são um elemento essencial na representação do Sol, da Lua, dos planetas. Trata-se ainda, sobretudo, de evocar a viagem dos astros, seu movimento cíclico. Os trinta raios tradicionais da roda chinesa (Tao-te-king, c. II) são o signo, pelo que diz respeito a eles, de um ciclo lunar (Granet).

De modo ainda muito mais claro, a roda se revela como um símbolo do mundo; o cubo constitui o centro imóvel, o princípio, e a camba, a manifestação que emana dele por um efeito de irradiação. Os raios indicam a relação da circunferência com o centro.
A roda mais simples tem quatro raios: é a expansão segundo as quatro direções do espaço, mas também o ritmo quaternário da Lua e das estações. A roda de seis raios reconduz ao simbolismo solar; evoca igualmente o monograma de Cristo e pode ser considerada a projeção horizontal da cruz de seis braços.

A roda mais frequente tem sempre oito raios: são as oito direções do espaço evocadas pelas oito pétalas do lótus, com o qual a roda se identifica. As oito pétalas ou oito raios simbolizam também a regeneração, a renovação. Esta roda é encontrada do mundo céltico até a Índia, passando pela Caldeia.

É ainda a disposição dos oito trigramas chineses. Se a roda da existência budista tem seis raios, é apenas porque existem seis classes de seres, seis loka; se a roda do Dharma tem oito raios, é porque o Caminho comporta oito veredas. A significação cósmica da roda está expressa nos textos védicos. Sua rotação permanente é renovação. Dela nasceram o espaço e todas as divisões do tempo.

É também a Rota Mundi dos Rosa-Cruzes. Só o centro da roda cósmica é imóvel: é o vazio do cubo que a faz girar (Tao, 11), o umbigo (nabhi ou omphalos). Nesse centro se mantém o Chakravarti, aquele que faz girar a roda. É o Buda, o Homem universal, o Soberano. Os antigos reis de Java e de Angkor eram expressamente qualificados como Chakravarti. Este cubo vazio é o ponto de aplicação da Atividade celeste. O monarca que aí permanece é, na transformação universal, o único a não ser transformado, diz Tchuang-tse.

Outro aspecto do simbolismo chinês: o cubo é o Céu, enquanto a circunferência constitui a Terra, e o raio, o homem, mediador entre eles. A roda da nona dos chineses, ou a roda do oleiro de Tchuang-tse, ou o ciclo da criação da Epístola de São Tiago exprimem igualmente o redemoinho incessante da manifestação, e a libertação desse movimento só pode ser obtida pela passagem da circunferência ao centro, o que se entende como retorno ao centro do ser.

A roda que o Buda coloca em movimento é a Roda da Lei, o Dharmachakra. Essa lei é a do destino humano. Por isso não existe nenhum poder que seja capaz de inverter o sentido de rotação da roda. Guénon a relaciona muito judiciosamente à Roda da Fortuna ocidental.

A Índia e o budismo usam ainda outros símbolos: o sábio que atinge a Libertação é, diz o Samkhya, um oleiro que terminou seu pote; mas ele continua a viver, assim como a roda continua a girar pela velocidade adquirida. A duração da vida, ensina o Visuddhimagga, é a de um pensamento: assim como a roda que só toca o solo num único ponto.

É preciso não esquecer a Roda da Existência do budismo tibetano, que, fundada mais uma vez sobre a noção das mutações incessantes, representa a sucessão dos estados múltiplos do ser.

O tantrismo ainda dá nomes de rodas (chakra) — ou de lótus — aos centros sutis, atravessados pela corrente da kundalini, assim como as rodas são atravessadas por seu eixo.

O nome meramente convencional de Roda da Lei, e também os de roda do moinho ou de noria, são dados, na alquimia interna dos Taoistas, ao movimento regressivo da essência e do sopro, que deve fazer com que estes se unam no cadinho: é, expresso de forma emblemática, um retorno da periferia, da circunferência, ao centro.
Acrescentemos ainda alguns casos particulares. A roda é, escreve Devoucoux, a imagem da ciência cristã unida à santidade. Ela é o emblema da erudita egípcia, Santa Catarina, a padroeira lendária dos filósofos cristãos. Na roda de fogo céltica, a rotaçáo é feita alternativamente nos dois sentidos. Encontramos aqui o simbolismo da dupla espiral.

A roda é um símbolo muito frequente nas representações célticas. Nas esculturas galo-romanas, é com mais frequência figurada em companhia de Júpiter céltico, comumente chamado deus da roda ou Táranis, ou ainda do cavaleiro com o gigante anguípede.

Os testemunhos dessas imagens são inumeráveis e atestam uma extensão em nível popular: terracotas, bronzes, até amuletos. Esta representação fez com que a maioria dos pesquisadores modernos vissem na roda o equiva-lente dofulmen de Júpiter, em outras palavras, um símbolo solar.

Mas o simbolismo solar não basta para explicar totalmente a roda, que é também e sobretudo uma representação do mundo. Porque, se pensarmos no paralelo irlandês da roda cósmica, do druida mítico Mag Ruith (servidor da roda), que é um avatar do deus druida Dagda, o deus da roda céltico corresponde bem exatamente ao Chakravarti hindu: é o motor imóvel, no centro do movimento, do qual constitui o eixo e no qual não participa, embora lhe seja indispensável.

Uma placa de caldeirão de Gundestrup representa um homem (guerreiro, servidor da roda) girando a roda cósmica, enquanto o busto do deus é figurado com os braços levantados em atitude de oração ou na atitude simbolicamente impassível do Princípio, de onde emana toda a manifestação.

A roda é também o símbolo da mudança e do retorno das formas da existência. Uma espada de Hallstatt (Áustria) representa dois jovens (análogos aos Dióscuros?) fazendo girar a roda; devem simbolizar a sucessão do dia e da noite.

Por ser semelhante ao círculo, a roda é igualmente um símbolo celeste, em relação com a noção de centro. A rodela é também uma figura geométrica extremamente frequente nas representações célticas de todas as épocas, e seu simbolismo conjuga o da roda com o da cruz.

Um outro simbolismo, muito próximo da roda, é o da espiral, que, com seus movimentos alternativos de evolução e involução, corresponde ao solve et coagula. A roda do druida Mag Ruith é feita de madeira de teixo, árvore funerária, e é uma roda cósmica, cuja aparição sobre a terra marcará o começo do Apocalipse: quem a vir ficará cego, quem a escutar ficará surdo e quem for tocado por ela morrerá.

Uma deusa galesa, citada em Mabinogi de Math, filho de Mathonwy, tem por nome Arian-rhod, roda de prata. É mãe de dois filhos, um dos quais, Dylan eil Ton, filho da onda, vai imediatamente à água, onde nada como um peixe (o que constitui um retorno ao Princípio), e o outro, Llew, tem um nome que corresponde ao do irlandês Lug. Entre os jogos guerreiros de Cuchulainn figura o da roda: o jovem herói se contorce de modo a formar com seu corpo uma roda animada de grande velocidade. O tema roto (roda) está amplamente representado na toponímia gaulesa (ex. Rotomagus: Rouen).

Na Hierarquia celeste, cap. 15, 8, 9, Dionísio, o Areopagita, desenvolve o simbolismo das rodas incendiadas e das rodas aladas, de que falam os Profetas. Daniel descreve sua visão do Ancião e do Filho do Homem: Seu trono era chama de fogo com rodas de fogo ardente. Um no de figo jorrava... (7, 9-11)

Por sua vez, Ezequiel vê as rodas dos querubins: "Quando ele deu esta ordem ao homem vestido de branco: Pega o fogo do meio do carro que está entre os querubins, o homem foi até lá e parou perto da roda. Olhei: havia quatro rodas ao lado dos querubins, e o aspecto das rodas tinha o brilho do crisólito. E todas as quatro tinham o mesmo aspecto; elas estavam uma no meio da outra... Escutei que se dava às rodas o nome de galgai.. Quando os querubins avançavam, as rodas avançavam a seu lado; quando os querubins estendiam as asas para se elevarem da terra, as rodas não se desviaram tampouco. Quando eles paravam, elas paravam e, quando se elevavam, elas se elevavam com eles, porque o espírito do animal estava nelas" (10, 6-10, 13, 16-17).

O teólogo neoplatônico revela a significação simbólica dessas rodas: Quanto às rodas aladas que avançam sem desvio nem declinação, significam o poder de rolar bem direito, em linha reta (337 D), sobre a via direita e sem desvios, graças a uma rotação perfeita que não pertence a este mundo. Mas a alegoria sagrada das rodas da inteligência se presta ainda a uma outra exegese que corresponde a um outro ensinamento espiritual.

Como diz, com efeito, o teólogo, deram-lhes o nome de galgai, que, em hebraico, significa ao mesmo tempo revolução e revelação. "Estas rodas incendiadas, que recebem a forma divina, têm o poder de rolar sobre si mesmas, pois movem-se eternamente ao redor do Bem imutável; têm igualmente o poder de revelar, pois iniciam nos mistérios, elevam espiritualmente as inteligências aqui da terra, fazem descer até aos mais humildes as iluminações mais elevadas".

Nos textos sagrados, a roda simboliza, portanto, o desenvolvimento da revelação divina. Encontra-se também uma outra significação no texto de Ezequiel, se for considerado o versículo 12: "E todo o seu corpo, suas costas, suas mãos e suas asas, bem como as rodas de todos os quatro, estavam cobertos de olhos por toda parte." A imagem de rodas consteladas de olhos é uma alegoria, como a das estrelas-olhos, que tende a exprimir a onisciência e a onipresença da divindade celeste. Significa muito precisamente que nada escapa ao olhar de Deus, mas que ele também atrai o olhar do homem.

Entretanto, o símbolo da roda teria sido, durante muito tempo, lunar, antes de se tornar solar: "O sistro de Ísis ou de Diana representaria o disco lunar, o celeste tesouro da roda, que aparece ao rei no dia da lua cheia". "A roda", acrescenta o mesmo autor, "é, no seu sentido primordial, o emblema do vir a ser cíclico, resumo mágico que permite o controle do tempo, isto é, a predição do futuro."

O símbolo da roda do zodíaco

A Roda Zodiacal aparece também em toda parte. Etimologicamente Zodíaco significa roda da vida. Mais tarde, o Zodíaco adquiriu uma significação solar; mas ele é primitivamente lunar. Os antigos árabes o chamam de cinto de Ishtar, e os babilônios, de Casas da lua. "A roda, aliás, passou a ter, só muito tardiamente, uma acepção solar, quando, por razões técnicas, foi munida de raios, assim como aparece ainda no ritual dos fogos célticos em Epinal ou em Agen. Mas, primitivamente, a roda zodiacal, bem como a do calendário, é uma roda lunar, de madeira maciça, reforçada por um triângulo ou quadrados contíguos de pranchas, o que lhe dá subdivisões internas aritmologicamente significativas".

No Mistério das Catedrais, Fulcanelli exprime-se nestes termos sobre o simbolismo alquímico da roda: "Na Idade Média, a rosa central dos pórticos era chamada rota, a roda. Ora, a roda é o hieróglifo alquímico do tempo necessário à cocção da matéria filosofal e, por conseguinte, da própria cocção. O fogo alimentado, constante e igual, que o artista mantém noite e dia no curso desta operação, é chamado, por essa razão, fogo de roda. Entretanto, além do calor necessário à liquefação da pedra dos filósofos, é preciso ainda um segundo agente, chamado fogo secreto ou filosófico. É este último fogo, estimulado pelo calor vulgar, que faz girar a roda."

Fulcanelli cita em seguida um resumo de um texto alquímico do séc. XVII, o tratado da Harmonia e Constituição geral do Verdadeiro Sal, de De Nuysement, que mostra que esta significação simbólica da roda é, como nos textos bíblicos, exatamente a do veículo de manifestação, que vai e vem entre o Céu e a terra, unindo o divino e o profano:

Observa somente os rastros de minha roda, E, para dar por toda parte um calor igual, Náo suba nem desça muito cedo para a terra e para o Céu.

Para Jung e sua escola, as rosáceas das catedrais representam o self do homem transposto ao plano cósmico. É a unidade na totalidade, e este autor, tomando a rosácea como um outro mandala, acrescenta que podemos considerar mandalas as auréolas de Cristo e dos Santos nos quadros religiosos. Voltamos aqui ao simbolismo do centro cósmico e do centro místico, ilustrado pelo cubo da roda.

A personificação se completa e se harmoniza, quando uma dupla corrente se estabelece, por meio dos raios, do centro para a circunferência e desta para o centro. A roda inscreve-se no quadro geral dos símbolos de emanação-retomo, que exprimem a evolução do universo e a da pessoa.

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Ashoka Chakra, a roda símbolo da Índia

A Ashoka Chakra é uma representação da roda do darma. A roda tem 24 raios. Em português, usamos a tradução Açoca Chacra. Essa roda foi encontrada em muitas relíquias do imperador máuria Açoca, mais proeminente entre os quais estão o Capitel do Leão de Sarnath e Pilar de Açoca.

O mais visível uso do Açoca Chacra hoje está no centro da bandeira nacional da da Índia (adotada em 22 de Julho de 1947), onde é representado com a cor azul-marinho num fundo branco, substituindo o símbolo do Chacra (roca de fiar) das versões pré-independentes da bandeira. Açoca Chacra pode também ser vista na base Capitel de Leão de Asoca, no qual foi adotado como Emblema Nacional da Índia.

Essa roda símbolo foi construída pelo imperador máuria Açoca em seu reinado. Chacra é uma palavra em sânscrito no qual também significa círculo ou processo que se repete. O processo significa que é o círculo do tempo, como o mundo muda com o tempo.

Os vinte e quatro raios na roda do Chacra representam vinte e quatro virtudes:

  1. Amor
  2. Coragem
  3. Paciência
  4. Tranquilidade
  5. Gentileza
  6. Bondade
  7. Fidelidade
  8. Brandura
  9. Autocontrole
  10. Altruísmo
  11. Autossacrifício
  12. Veracidade
  13. Rectidão
  14. Justiça
  15. Misericórdia
  16. Benevolência
  17. Humildade
  18. Empatia
  19. Simpatia
  20. Conhecimento piedosa
  21. Sabedoria piedosa
  22. Moral piedosa
  23. Temor reverencial de deuses
  24. Fé na bondade dos deuses

 

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Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.


Página atualizada na Agência EVEF em 06/04/2022 por Everton Ferretti