A simbologia do vinho

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Além de interpretações particulares, como a de São Bernardo que só vê no vinho o símbolo do temor e a força, o vinho é geralmente associado ao Sangue, tanto pela cor quanto por seu caráter de essência de planta: em consequência, é a poção de vida ou de imortalidade.

Nas tradições de origem semítica particularmente — porém não exclusivamente — é também o símbolo do conhecimento e da iniciação, devido à Embriaguez que provoca.

No taoismo, a virtude do vinho não se distingue do poder da embriaguez. Na Grécia antiga, o vinho substituía o sangue de Dioniso e representava a bebida da imortalidade.

Este também era o seu papel no taoismo, em que era objeto de uma preparação ritual complexa.

Nas sociedades secretas chinesas, o vinho (de arroz) é misturado ao sangue no juramento e, enquanto bebida comunicante, permite alcançar a idade de cento e noventa e nove anos.

É também, evidentemente, o significado do Cálice do Sangue do Cristo na Eucaristia, prefigurada pelo sacrifício de Melquisedeque. Aqui, encontramos igualmente a noção de sacrifício associada à efusão do sangue, sacrifício que pode ao mesmo tempo ser o das tendências passionais associadas à embriaguez.

O vinho é um elemento de sacrifício entre os hebreus. Também o foi — mas num sentido diferente, enquanto essência vegetal — entre os chineses da Antiguidade.

O vinho do sacrifício, escreve São Martinho, é o agente ativo e gerador da Grande Obra, o enxofre do simbolismo alquímico. O vinho como símbolo do conhecimento e da iniciação não é desconhecido de nenhuma das tradições citadas acima, e em particular dos mitos dionisíacos.

A Índia também nos oferece um simbolismo ambivalente: no mito da Batedura do Mar de leite, os asuras seriam, segundo certas interpretações, aqueles que não consumiam o vinho (sura), enquanto os deva seriam aqueles que aceitaram tomá-lo.

O vinho alcança estatus de símbolo maior no Cântico dos Cânticos (2, 4): Levai-me à adega. É a alegria, o Espírito Santo, a Sabedoria, a Verdade, diz Orígenes. É, "segundo o entendimento, a sabedoria de Deus; segundo a vontade, o seu amor; segundo a memória, as suas delícias", diz São João da Cruz.

Para Clemente de Alexandria, o vinho está para o pão como a vida contemplativa e a gnose estão para a vida ativa e a fé.

Para Elias o Ecdicos, a contemplação pura é "o vinho perfumado que deixa fora de si aqueles que com ele se embriagam", sendo a oração simples o pão dos iniciantes. Este vinho tem o mesmo sabor para os místicos muçulmanos: é a bebida do amor divino (Naboulousi). No sufismo, o vinho é o símbolo do conhecimento iniciático reservado a poucos. É, diz Ibn Arabi, o símbolo da "ciência dos estados espirituais".

Na tradição bíblica, o vinho é primeiramente símbolo de alegria (Salmos, 104, 15; Eclesiastes, 9, 7) e, por generalização, de todas as dádivas que Deus fez aos homens (Gênesis, 27, 28).

Como nas religiões vizinhas o vinho é a bebida dos Deuses (v. Deuteronômio, 32, 37-38), compreende-se:

• que Israel lhe tenha reconhecido um valor sagrado; ele ocupa um lugar nos sacrifícios do culto (Êxodo, 29, 40, em que a noção de alimento divino está ainda próxima);

• que essa bebida, tão intimamente ligada aos cultos pagãos, tenha sido proibida em certos casos. A seita dos recabitas de que fala jeremias (35) recusa o vinho, entre outros sinais de um sedentarismo sempre suspeito de sincretismo religioso.

O vinho, causador de embriaguez, é ainda símbolo da loucura que Deus provocou nos homens e nas nações infiéis e rebeldes para melhor castigá-los (Jeremias, 25, 15 s.; 27 s.).

Às vezes, mesmo por braquilogia, o vinho simboliza a cólera de Deus (Isaías, 51, 17; Apocalipse, 9, 15). No Novo Testamento, e especialmente nos escritos de Joáo, a palavra aparece claramente carregada de sentido simbólico, sem que seja sempre fácil determinar esse sentido. Assim, a água transformada em vinho nas bodas de Caná (Joáo, 2). Devemos ver aí um símbolo eucarístico, como o fizeram os primeiros comentadores cristãos?

Jesus, ao instituir a Ceia, expressa outro simbolismo: "Este é o meu sangue, o sangue da Aliança" (Marcos, 14, 24 e, paralelamente, a alusão ao sacrifício sangrento da aliança descrito em Êxodo, 24, 8).

A aproximação fica suficientemente explicada pela expressão, por outro lado bastante rara: "o vinho é o sangue da uva" (Gênesis, 49, 11; Deuteronômio, 32, 14-15). Desde o exílio, o sangue teria sido substituído pelo vinho nos sacrifícios.

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Vinho, o símbolo da vida eterna

A arte funerária que multiplica nos túmulos os temas da videira, das vindimas ou do vinho, mostra que essa bebida era considerada símbolo de imortalidade. É frequente a ilustração do tema, em que a influência da arte dionisíaca é bastante evidente. Essa contaminação pagã deve sem dúvida ter tido a sua participação na inovação de Herodes, que introduziu no Templo uma Videira de ouro.

O simbolismo báquico do vinho é utilizado no Islã, ora relacionado às alegrias profanas, ora para designar a embriaguez mística. O vinho é igualmente louvado no Cântico dos Cânticos, nos mistérios antigos, na lenda do Graal, no culto cristão etc. Em hebraico, as palavras vinho (yain) e mistério (sod) têm o mesmo valor numérico: 70.

No Islã, a proibição de tomar vinho material acentua ainda mais a força e o alcance do símbolo. Naturalmente, os sufistas interpretaram misticamente o versículo 76, 21, do Corão, que diz: "o seu Senhor lhes fará beber uma bebida pura"; o versículo 83, 25: "Um vinho perfumado e selado lhes será dado para beber"; os versículos 47, 16; 37, 44-66; 56, 18; 78, 34; 76, 5 etc. que falam de bebida, de vinho, de taças, de fontes e de échansons.

Bayazid de Bistham, o grande místico persa (1875), disse: "Sou o que bebe, o vinho e o échanson. No mundo da Unificação, todos são um." Para os iniciados, diz Lahiji, em seu comentário sobre o Guisan i-Raz, o Rosal do Mistério, tratado de sufismo de Mahmoud Shabestari, o vinho "representa o amor, o desejo ardente e a embriaguez espiritual".

O próprio Shabestari escreve que "o vinho, o Archote*, e a beleza são as epifanias de Deus. Beba a grandes tragos, disse ele, o vinho do aniquilamento. Beba o vinho, pois a taça é a face do Amigo." Ibn al Faridh (1181-1235) consagrou um longo poema, Al-Khamriya, em louvor ao vinho. Ele começa assim: "Nós bebemos à memória do Bem-Amado um vinho que nos embriagou antes da criação da videira." O comentário de Nabolosi diz a esse respeito: "O vinho significa bebida do Amor divino... pois este amor gera a embriaguez e o total esquecimento de tudo o que existe no mundo." Acrescenta: "Esse vinho é o Amor divino eterno que aparece nas manifestações da criação... É ainda a luz que brilha em todo lugar, e é ainda o vinho da ver-dadeira Existência e do chamado verídico. Todas as coisas beberam esse vinho".

Jelal-al-Din Rumi, o maior poeta místico sufista, escreve o mesmo, fazendo alusão à pre-existência das almas: "Antes que neste mundo houvesse um jardim, uma videira, uvas, a nossa alma estava embriagada com um vinho imortal."

Esse simbolismo é constante. Também encontra-mos constantemente o simbolismo do échanson (Deus conferindo a sua graça, ou o Mestre do conhecimento místico etc.) e o da taverna, que pode designar o local de reunião dos amigos ou confidentes, i.e., daqueles que compartilham os mesmos segredos espirituais; ou, num sentido ainda mais místico, um centro de iniciação.

É claro que esse simbolismo também pode ser utilizado para designar prazeres profanos, como em Ornar Khayyam etc. É pelo vinho, portador de alegria, que Dioniso embriagava os seus fiéis: "O vinho, sangue da videira, no qual se pensava que o fogo unia-se ao princípio úmido e que exercia sobre a alma efeitos ora exaltantes ora aterrorizantes, prestava-se maravilhosamente para simbolizar o elemento divino cuja manifestação os antigos acreditavam reconhecer no desenvolvimento da vida vegetativa".

Mas o uso do vinho era "proibido nas libações aos deuses infernais, pois era a alegre bebida dos vivos; era também proibido à Mnemósine e às Musas, pois perturba a memória (embora essas explicações não passem de hipóteses)".

O vinho aparece nos sonhos como um elemento psíquico de valor superior: é um bem cultural, em relação a uma vida interior positiva. "A alma experimenta o milagre do vinho como um divino milagre da vida: a transformação do que é terrestre e vegetativo em espírito livre de todos os laços".

 

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Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.


Página atualizada na Agência EVEF em 05/04/2022 por Everton Ferretti