O preto e sua importância no Design Gráfico

Quando ouvimos os especialistas em moda declararem: “o preto está de volta”, nos perguntamos, para onde ele foi? Estava escondido? Teria caído em um buraco negro ou em um poço sem fundo?

Quem acredita no poder da cor preta sabe que ele está eternamente presente nas roupas, na decoração, nos produtos e na aplicação gráfica, e nunca sai de moda. Embora os tempos mais recentes exibam uma crescente sensibilidade e consciência das cores, o preto sempre manteve seu posicionamento e poder.

Como John Harvey aponta em seu livro Homens de Preto: “Apesar dos valores sombrios que o preto muitas vezes teve, não se desejaria cortá-lo da roupa mais do que se desejaria que as pessoas não tivessem peso ou sombra”.

Ao usar roupas, foi William, o Bom (também conhecido, ironicamente, o duque da Borgonha) que iniciou a tendência de usar preto como uma declaração de temperança e autodisciplina, pois sentiu que representava a seriedade exigida da crescente classe mercantil da região, no século 15.

Há uma grande dicotomia e paradoxo no significado de preto. Enquanto a noite oferece horas de descanso e contenção, sob o manto da escuridão, atos nefastos podem ser feitos. Estar de mau humor é estar em um estado de espírito infeliz, bastante sombrio, e o humor negro é cínico, até um pouco macabro.

Um olhar negro de um professor ou chefe não é uma visão bem-vinda. É a cor pesada do luto, dos padres, monges e puritanos, enquanto, ao mesmo tempo, é o tom preferido por mafiosos estrelas de cinema, adolescentes rebeldes e vilões sinistros. É o mestre do disfarce.

No entanto, no mundo de hoje, os aspectos positivos do preto são muito mais prevalentes. Seu poder fala mais de experiência e elegância. É a personificação da sofisticação no verdadeiro sentido da palavra: sábio mundano, conhecedor, cultivado e equilibrado. É Holly Golightly em Breakfast at Tiffany’s, e escolhida por uma infinidade de outras mulheres esbeltas e estilosas.

No mundo da alta tecnologia, é uma opção viável, pois é percebida como avançada, moderna, de última geração, vanguardista e altamente evoluída. É a cor do mistério, mas também dos mistérios resolvidos; a essência por excelência do frescor, não na temperatura, mas na atitude. Como todo morador de cidade grande ou passageiro frequente sabe, é prático, mas glamouroso, bonito e ao estilo Armani.

O preto é percebido como a cor mais pesada em peso, mas nos dizem que parecemos mais magros usando roupas pretas. É considerado resistente, furtivo e elegante. Uma coisa que temos certeza absoluta é que o preto nunca é frívolo. Contido, forte, determinado e impenetrável, esse tom mais profundo não é apenas poderoso, mas também fortalece aqueles que o escolhem, pois exala autoridade, força e confiança.

Se nosso negócio finalmente estiver no preto, é uma notícia muito boa, pois significa que estamos livres de dívidas, solventes, financeiramente sólidos e dignos de crédito. O preto é onipotente e onipresente. Embora ocasionalmente volte para as sombras para fazer sua mágica, é uma força a ser reconhecida.

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Veículo Ford modelo T: a história do primeiro veículo produzido em linha de montagem no mundo, e por que ele era preto.

"Você pode ter um Ford Model T em qualquer cor, desde que seja preto" - Esta é uma citação famosa de Henry Ford. Isso levou muitos a acreditar que o Ford Modelo T estava disponível apenas em preto. No entanto, isso foi apenas no início da produção.

O Ford Modelo T foi apresentado em 1º de outubro de 1908. Também conhecido como "Tin Lizzie", o Ford Modelo T foi o primeiro carro de produção em massa acessível da história. Ou para ser mais preciso, a primeira carruagem sem cavalos acessível. Henry Ford pretendia fazer um carro "grande o suficiente para a família, mas pequeno o suficiente para o indivíduo correr e cuidar".

O preço também foi mantido baixo para que qualquer pessoa que ganhasse uma vida decente pudesse pagar um.

Inicialmente, por questões de padronização e logística, os primeiros veículos eram pintados apenas na cor preta. Após alguns anos de evolução no sistema de produção, foi possível oferecer aos clientes o veículo em outras cores. Mas a imagem do Ford T preto ficou marcada para sempre.

 

Simbologia histórica do preto

Cor oposta ao branco, o preto é seu igual em valor absoluto. Como o branco, pode situar-se nas duas extremidades da gama cromática, enquanto limite tanto das cores quentes como das cores frias; segundo sua opacidade ou seu brilho, torna-se então a ausência ou a soma das cores, sua negação ou sua síntese.

Simbolicamente, é com mais frequência compreendido sob seu aspecto frio, negativo. Cor oposta a todas as cores, é associada às trevas primordiais, ao indiferenciamento original. Nesse sentido, lembra a significação do branco neutro, do branco vazio, e serve de suporte a representações simbólicas análogas, como as dos cavalos da morte, às vezes brancos, às vezes pretos.

Mas o branco neutro e ctônico é associado, nas imagens do mundo, ao Eixo Leste-Oeste, que é o das partidas e das mutações, enquanto o preto se coloca, por sua vez, no Eixo Norte-Sul, que é o da transcendência absoluta e dos polos.

Conforme os povos localizem seu Inferno e o mundo subterrâneo no Norte ou no Sul, uma ou outra dessas direções é considerada preta. Assim o Norte é preto para os astecas, os algonquino, os chineses; o Sul para os maia, e o nadir, isto é, a base do eixo do mundo, para os indígenas pueblo. Instalado, portanto, embaixo do mundo, o preto exprime a passividade absoluta, o estado de morte concluído e invariante, entre estas duas noi-tes brancas, em que se efetuam, sobre seus flancos, as passagens da noite ao dia e do dia à noite.

O preto é cor de luto; náo como o branco, mas de uma maneira mais opressiva. O luto branco tem alguma coisa de messiânico. Indica uma ausência destinada a ser preenchida, uma falta provisória. É o luto dos Reis e dos Deuses que vão obrigatoriamente renascer: o Rei está morto, viva o Rei! corresponde bem à corte da França, onde o luto exigia o uso de branco.

O luto preto, por sua vez, é, pode-se dizer, o luto sem esperança. "Como um nada sem possibilidades, como um nada morto depois da morte do Sol, como um silêncio eterno, sem futuro, sem nem mesmo a esperança de um futuro, ressoa interiormente o preto", escreve Kandinsky.

O luto negro é a perda definitiva, a queda sem retorno no Nada: o Adão e a Eva do zoroastrismo, enganados por Arimã, vestem-se de preto, quando são expulsos do Paraíso.

Cor da condenação, o preto torna-se também a cor da renúncia à vaidade deste mundo, daí os mantos pretos que constituem uma prodamação de fé no cristianismo e o Islã: o manto preto dos mevlevi — os dervixes rodopiantes — representa a pedra sepulcral. Quando o iniciado o tira para começar sua dança giratória, aparece vestido com uma roupa branca que simboliza seu renascimento no divino, isto é, na Realidade Verdadeira: entrementes as trombetas do julgamento soaram.

No Egito, segundo Horapollon, "uma pomba preta era o hieróglifo da mulher que permanece viúva até sua morte" (PORS, 175). Esta pomba preta pode ser considerada o eros frustrado, a vida negada.

Conhece-se a fatalidade manifestada pelo navio de velas negras, desde a epopeia grega até a de Tristão. Mas o mundo ctônico, o subterrâneo da realidade aparente, é também o ventre da terra, onde se efetua a regeneração do mundo diurno. "Cor de luto no Ocidente, o preto é originalmente o símbolo da fecundidade tanto no Egito antigo como na África do Norte: a cor da terra fértil e das nuvens inchadas de chuva".

Se é preto como as águas profundas, é também porque contém o capital de vida latente, porque é o grande reservatório de todas as coisas: Homero vê o oceano como preto.

As Grandes Deusas da Fertilidade, essas velhas deusas-mães, são com frequência pretas em virtude de sua origem crônica: as Virgens negras acompanham assim as ísis, as Áton, as Deméter e as Cibele, as Afrodite negras. Orfeu diz, "Cantarei a noite, mãe dos deuses e dos homens, a noite, origem de todas as coisas criadas, e nós a chamaremos de Vênus."

Este preto reveste o ventre do mundo, onde, na grande escuridão geradora, opera o vermelho do fogo e do sangue, símbolo da força vital. Daí a oposição frequente do vermelho e do negro sobre o Eixo Norte-Sul, ou, o que vem a dar no mesmo, o fato de que o vermelho e o preto podem substituir-se um ao outro, como observa J. Soustelle a respeito da imagem do mundo dos astecas.

Daí também a representação dos Dióscuros montados em dois cavalos, um preto e o outro vermelho, num vaso grego descrito por Portal, e ainda, num outro vaso, igualmente descrito por esse autor, a roupa de Camilo, o grande condutor de almas dos etruscos, que tem o corpo vermelho, mas as asas, as botinas e uma túnica negras.

As cores de A Morte, Arcano 13 do Tarô, são significativas. Essa morte iniciatória, prelúdio de um verdadeiro nascimento, ceifa a paisagem da realidade aparente — paisagem das ilusões perecíveis — com uma foice vermelha, enquanto a própria paisagem está pintada de preto.

O instrumento da morte representa a força vital, e sua vítima, o nada; ceifando a vida ilusória, o Arcano 13 prepara o acesso à vida real. O simbolismo do número confirma aqui o da cor; 13, que sucede a 12, número do ciclo terminado, introduz uma nova partida, fomenta uma renovação.

Na linguagem heráldica, a cor preta é chamada sable (palavra francesa que significa "areia"), o que exprime suas afinidades com a terra estéril, habitualmente representada por um amarelo ocre, que é às vezes também o substituto do preto: é esse mesmo amarelo de terra ou de areia que representa o norte, frio e hibernal, para certos povos ameríndios, bem como para os tibetanos e os kalmuks. O sable significa "prudência, sabedoria e constância na tristeza e nas adversidades".

Ao mesmo simbolismo estaria ligado o famoso verso do Cântico dos Cânticos: "Eu sou preta mas, contudo, bela, filhas de Jerusalém, que, segundo os exegetas do Antigo Testamento, é o símbolo de uma grande prova." Talvez seja realmente isto, porque o preto brilhante e quente, oriundo do vermelho, representa, por sua vez, a soma das cores. Torna-se a luz divina por excelência no pensamento dos místicos muçulmanos.

Mevlana Djalâlud-Din Rumi, o fundador da ordem dos mevlevi (dervixes rodopiantes), compara as etapas de progressão interior do sufista, na direção da beatitude, a uma escala cromática.

Esta escala parte do branco, que representa o Livro da Lei alcoranista, valor de partida, passivo, porque precede o engajamento do dervixe na via do aperfeiçoamento. Termina no preto depois de passar pelo vermelho: este preto, segundo o pensamento de Mevlana, é a cor absoluta, a conclusão de todas as outras cores, superadas como tantos degraus, para se atingir o estado supremo do êxtase, onde a Divindade aparece ao místico e o ofusca. Ali o Preto brilhante é exatamente idêntico ao Branco brilhante.

Sem dúvida, é possível interpretar da mesma maneira a pedra de Meca, ela também de um preto brilhante. Esse preto também se vê na África, na profunda pátina de reflexos avermelhados que recobre as estatuetas do Gabão, guardião dos santuários onde são conservados os crânios dos ancestrais.

Em seu aspecto profano, este mesmo preto brilhante e avermelhado é o preto dos corcéis murzelos da tradição popular russa, simbolizando o ardor e a força da juventude.

O casamento do preto e do branco é uma hierogamia; engendra o cinza intermediário, que, na esfera cromática, é o valor do centro, isto é, do homem.

No Extremo Oriente, a dualidade do negro e do branco é, de um modo geral, a da sombra e da luz, do dia e da noite, do conhecimento e da ignorância, do yin e do yang, da Terra e do Céu.

No pensamento hindu, é a das tendências Camas (descendente ou dispersiva) e sattva (ascendente ou coesiva), ou ainda a da casta dos shudra e da casta dos brâmanes (em geral, o branco é a cor do sacerdócio). Entretanto, Shiva (Camas) é branco e Vishnu (sattva) é preto, o que os textos explicam pela interdependência dos opostos, mas sobretudo pelo fato de que a manifestação exterior do princípio branco aparece preta e vice-versa, assim como se dá a inversão pelo reflexo no espelho das águas.

O preto é, em geral, a cor da Substância universal (Prakriti), da prima materia, da indiferenciação primordial, do caos original, das águas inferiores, do norte, da morte: uma associação de ideias que se mantém do nigredo hermético aos simbolismos hindu, chinês, japonês (onde nem sempre, aliás, se opõe ao branco, mas, como por exemplo na China, ao amarelo e ao vermelho).

O preto possui incontestavelmente, nesse sentido, um aspecto de obscuridade e de impureza. Mas, inversamente, é o símbolo superior da não manifestação e da virgindade primordial: a essa significação está ligado o simbolismo das Virgens negras medievais, e também o de Kali, negra, porque reintegra no que é informe a dispersão das formas e das cores.

No Bhagavad-Gita, é aparentemente Krishna, o imortal, que é o sombrio, enquanto Arjuna, o mortal, é o branco, imagens perspectivas do Ser universal e do eu individual Aliás, voltamos a encontrar aqui o simbolismo de Vishnu e de Shiva.

O iniciado hindu senta-se sobre uma pele com pelos negros e brancos, significando o não manifestado e a manifestação. Na mesma perspectiva, Guénon observou o importante simbolismo dos rostos negros etíopes, das cabeças negras caldeias e também chinesas (kien-cheu), assim como o da Kemi, ou terra negra egípcia, todas essas expressões tendo certamente um sentido central e primordial, enquanto aparece branca, como a luz, a manifestação que se irradia do centro.

Porque, de fato, o hei chinês evoca ao mesmo tempo a cor preta, a perversão e o arrependimento; o escurecimento ritual do rosto é um sinal de humildade, visa a solicitar o perdão das faltas. Da mesma forma, Malkut é o segundo Hé do Tetragrama. Exilada e dolente, essa letra, de tamanho normal, se encolhe até não ser mais que um ponto preto, que evoca a forma da letra yod, a menor do alfabeto hebreu.

A obra em negro hermético, que é uma morte e um retorno ao caos indiferenciado, leva à obra em branco, e finalmente à obra em vermelho da libertação espiritual. E a embriologia simbólica do taoismo faz com que o princípio úmido suba do negror do abismo (k'an) para se ligar ao princípio ígneo, com vistas à eclosão da Flor de Ouro: a cor do ouro é o branco.

Do ponto de vista da análise psicológica, nos sonhos diurnos ou noturnos, bem como nas percepções sensíveis no estado de vigília, o preto é considerado a ausência de toda cor, de toda luz.

O preto absorve a luz e não a restitui. Evoca, antes de tudo, o caos, o nada, o Céu noturno, as trevas terrestres da noite, o mal, a angústia, o inconsciente e a Morte. Mas o preto é também a terra fértil, receptáculo do "se o grão náo morrer" do Evangelho, esta terra que contém os túmulos, tornando-se assim a morada dos mortos e preparando seu renascimento.

É por isso que as cerimônias do culto de Plutão, Deus dos Infernos, compreendiam sacrifícios de animais pretos, ornados com tirinhas da mesma cor. Esses sacrifícios só podiam ser feitos nas trevas, e a cabeça da vítima devia estar virada para a terra. O preto evoca também as profundezas abissais, os precipícios oceânicos (Num mar sem fundo, numa noite sem lua), o que levava os antigos a sacrificar touros negros a Netuno.

Enquanto evocador do nada e do caos, isto é, da confusão e da desordem, o preto é a obscuridade das origens; precede a criação em todas as religiões.

Para a Bíblia, antes que a luz existisse, a terra era informe e vazia, as trevas recobriam a face do Abismo. Para a Mitologia greco-latina, o estado primordial do mundo era o Caos. O Caos engendrou a Noite, que se casou com seu irmão Érebo: tiveram um filho, o Éter. Assim, através da Noite e do Caos, começa a penetrar a luz e a criação: o Éter.

Mas, entrementes, a Noite havia engendrado, além do Sono e da Morte, todas as misérias do mundo, como a pobreza, a doença, a velhice etc. Apesar da angústia provocada pelas trevas, os gregos qualificavam a Noite de Êufron, isto é, A Mãe do Bom Conselho. Nós mesmos dizemos: a noite é boa conselheira.

Com efeito, é principalmente à noite que podemos progredir, tirando proveito dos avisos dados pelos sonhos, como é aconselhado na Bíblia (Jó, 33, 14) e no Coráo (Surata 42).

Se o preto se liga à ideia do Mal, isto é, a tudo o que contraria ou retarda o plano de evolução desejado pelo Divino, é que o preto evoca o que os hindus chamam de a Ignorância, a sombra de Jung, a diabólica Serpente-Dragão das Mitologias, que é preciso vencer em si mesmo para assegurar sua própria metamorfose, mas que nos trai a cada momento.

Assim, em algumas imagens muito raras da Idade Média, Judas o traidor aparece com uma auréola preta. Este preto, associado ao Mal e à Inconsciência, se encontra em expressões como no francês, tramer de noirs desseins (tramar negros desígnios), la noirceur de son âme (o negror de sua alma), un roman noir (um romance policial em torno de crimes particularmente violentos). Être noir = encontrar-se na inconsciência da embriaguez. E se nossas torpezas ou nossos ciúmes são projetados sobre uma pessoa, que passamos a detestar, ela se torna a nossa bête noire (asa negra).

O preto, como cor indicativa da melancolia, do pessimismo, da aflição ou da infelicidade, reaparece a todo minuto na linguagem quotidiana (exemplos em francês: nous broyons du noir, entregamo-nos a pensamentos sombrios, nous avons des idées noires, temos ideias negras, nous sommes d'une humeur noire, estamos de humor negro, nous nous trouvons dans une purée noire, estamos numa miséria atroz).

Os estudantes ingleses chamam de Black Monday a segunda-feira em que recomeçam as aulas, e os romanos marcavam com uma pedra preta os dias nefastos. O Preto como evocação da morte está presente nos trajes de luto e nas vestes sacerdotais das missas de mortos ou da Sexta-Feira Santa.

Junta-se às cores diabólicas para representar, com o auxílio do vermelho, a matéria em ignição. Satã é chamado de Príncipe das Trevas, o próprio Jesus é às vezes representado de preto, quando é tentado pelo Diabo, como se estivesse recoberto com o véu negro da tentação.

Na sua influência sobre o psiquismo, o Preto dá uma impressão de opacidade, de espessura, de peso. É assim que um fardo pintado de preto parecerá mais pesado que um fardo pintado de branco.

Entretanto, um quadro tão sombrio (é o caso de dizê-lo) das evocações da cor preta não impede que ela adquira um aspecto positivo. Como imagem da morte, da terra, da sepultura, da travessia noturna dos místicos, o Preto está também ligado à promessa de uma vida renovada, assim como a noite contém a promessa da aurora, e o inverno a da primavera.

Sabemos, além disso, que, na maioria dos Mistérios antigos, o participante devia passar por certas provas à noite ou submeter-se aos ritos num subterrâneo obscuro.

Assim também, hoje em dia, os religiosos e religiosas morrem para o mundo num claustro. O Preto corresponde ao Yin feminino chinês, terrestre, instintivo e maternal. Observou-se que diversas deusas-mães, diversas Virgens são negras; a Diana de Éfeso, a Kali hindu ou Ísis são representadas em preto; uma pedra negra simbolizava a Magna Mater sobre o monte Palatino; a Ka'ba de Meca, enquanto Anima Mundi, é constituída por um cubo de pedra negra, e inumeráveis peregrinos veneram as Virgens negras em toda a Europa.

Na mesma ordem de ideias, o Cavaleiro do Apocalipse que monta o cavalo preto tem na mão uma balança e deve medir o trigo, a cevada, o óleo e o vinho, repartindo assim, num período de fome, os produtos colhidos no solo terrestre fecundo da Grande Mãe Mundo.

Nos sonhos, a aparição de animais pretos, de negros ou de outras personagens escuras mostra que entramos em contato com nosso próprio Universo instintivo primitivo que é preciso esclarecer, domesticar e cujas forças devemos canalizar para objetivos mais elevados.

 

 

Fonte: Livro Dicionário dos Símbolos, por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, editora J.O.


Página atualizada na Agência EVEF em 23/05/2022 por Everton Ferretti